Veneza, a Sereníssima República

A Itália tem lindas cidades, com histórias incríveis e uma das mais impressionantes é Veneza, a Sereníssima República dos doges e das gôndolas. Já estive quatro vezes em Veneza e cada uma delas é tão boa quanto a outra. A entrada em Veneza ou saída dela, pelo mar, de navio, é um dos maiores espetáculos da terra, quando se passa rente à Praça São Marcos, com suas imponentes torres, palácios e prédios históricos. Veneza é uma das cidades mais visitadas do mundo e tem uma luz especial, sobretudo ao entardecer, quando o sol se põe atrás das montanhas nevadas e sua luz dourada dá um colorido especial à cidade e às águas do Adriático sobre a qual foi fundada. Dizem que a cidade está afundando e tem pouco tempo de vida; talvez por isso tantos a procuram, para ver suas belezas antes que desapareçam.

Embora pareça desagradável ficar no meio de tanta gente que a fotografa de todos os ângulos, Veneza é uma cidade que só pode ser percorrida a pé ou de barco, por seus canais. Há os que pagam cem euros para um passeio de uma  hora de gôndola, o que ainda não fiz, mas admiro os que o podem fazer.

 Em Veneza, não circulam ônibus de turismo, táxis, nenhum veículo de quatro rodas. O jeito é entrar na multidão, percorrer suas ruelas e admirar-se com suas igrejas, a cada esquina. Fazer o percurso Rialto-São Marcos, ou vice-versa, apenas seguindo as setas, é um ritual de todo turista. No caminho, parada para fotos, para compras de artesanato e de ‘recuerdos’, a preços bem razoáveis. Pode-se comprar brincos, pulseiras, objetos diversos de vidro de Murano a partir de um euro. Depende da qualidade e do acabamento do produto. Também é imperdível a visita à catedral de S. Marcos, que não se paga, e ao museu com suas preciosas relíquias de santos e objetos litúrgicos de várias épocas; para esta há uma taxa. Também se pode sentar em um dos restaurantes à beira-mar, ou às margens dos canais, para alguma refeição ligeira, uma “birra”(cerveja) ou uma copa de vinho, enquanto se aprecia o movimento. Quanto mais perto do mar, mais caro, mas nada que empobreça o turista que sai com o dinheiro contado. Também se pode visitar os museus e galerias de arte espalhados pela cidade, mas acho que Veneza por si só já é um museu a céu aberto e nenhuma obra exposta é mais bela do que essa cidade e seu esplendor.

Koper e o litoral da Eslovênia

A Eslovênia é um pequeno país europeu, cujas fronteiras vão do pequeno litoral Adriático aos Alpes austríacos e tem como principal e único porto Koper, na baía de Trieste, também chamada Capodistria, em italiano. Como pertenceu ao império austro-húngaro dos Habsburgos, ali também se fala alemão. Koper situa-se na região de Ístria, a aproximadamente cinco quilômetros da fronteira com a Itália e é considerado um importante recurso natural nacional. Com apenas um por cento da Eslovênia tendo um litoral, o Porto de Koper também é um fator para incrementar o turismo na região. A cidade é um destino em várias linhas de cruzeiro no Mediterrâneo. Em 2016, a cidade recebeu 65 chegadas de cruzeiros e como é muito pequena, aproveita-se o dia ali para conhecer as outras cidades litorâneas como Izola, Piran e Portoroz.

A parte histórica de Koper é pequena e bem conservada. Pode-se sair do porto, atravessar a rua, tomar o elevador panorâmico e já se está no centro antigo, com a bela catedral e a torre do relógio. A cidade de Koper é oficialmente bilíngue, com o esloveno e o italiano como línguas oficiais. As atrações turísticas de Koper incluem o Palácio Pretoriano do século XV e a Loggia em estilo gótico veneziano, a igreja Carmine Rotunda do século XII e a Catedral de St Nazarius, com a sua torre do século XIV. O Palácio Pretoriano está localizado na praça da cidade. Foi construído a partir de duas casas mais antigas do século XIII que foram conectadas por uma loggia, reconstruída muitas vezes, e depois terminou como um palácio gótico veneziano. Hoje, é o escritório de turismo de Koper. A Catedral da Assunção foi construída na segunda metade do século XII e tem um dos mais antigos sinos da Eslovênia (de 1333), feito pelo mestre Jakob, de Veneza. O terraço superior é periodicamente aberto e oferece uma excelente vista da  baía de Trieste. No meio dela está a pintura sacra de 1516, considerada uma das melhores pinturas renascentistas na Eslovênia, feita por Vitorio Carpaccio. Por sinal, havia uma exposição desse famoso pintor italiano na cidade, pois se comemoravam os 500 anos dessa pintura.

De Koper, pode-se ir a Trieste, na Itália ou a Liubljana, a capital, de carro ou de trem, mas preferimos visitar Pirán, a mais famosa cidade do litoral, passando por Izola, na ida, e Portoroz, na volta. Em Pirán, visitamos a igreja e o museu de São Jorge, no alto da colina da bela cidade com forte influência austríaca. A temperatura estava deliciosa, caminhamos pelas ruas estreitas até à beira-mar, onde paramos para almoçar num aconchegante restaurante de comida caseira, tomando o vinho local. Comemos e bebemos bem (presunto e pão caseiros, sardinha com molho caseiro), gastamos pouco e conhecemos a hospitalidade eslovena, muito parecida com a dos italianos sem o estresse das grandes cidades. Eslovênia é o único país do mundo que tem “Love” no nome, disse nossa simpática guia, um amor para se visitar.

 

Korcula, a ilha de Marco Polo

O litoral da Croácia tem várias ilhas, cada uma mais encantadora do que a outra. Dessa vez, conhecemos Korcula (pronuncia-se “Kortchula”), uma ilha que disputa com Veneza  ser o local de nascimento de Marco Polo. Como Veneza tem muitas atrações e é uma das cidades mais visitadas do mundo, deixemos à pequena Korcula essa primazia, que só lhes faz bem. Andar pelo Centro Histórico de Korcula (ou Old Town, como dizem) faz você se sentir parte de um filme medieval. As casas, igrejas e palácios são feitos de pedra e têm telhados alaranjados, compondo um cenário digno de filme. A caminhada é suave e pode ser feita em apenas um turno, mesmo que você tenha o hábito de parar para tirar muitas fotos e contemplar a vista. O passeio começa quando cruzamos o Land Gate, a porta da cidade, que até hoje é envolta por muralhas do século XIII, muito bem conservadas. Em cima dela está a Torre Veliki Revelin, na qual é possível subir para se ter uma vista panorâmica da cidade. O interessante é que Korcula foi projetada para não receber tanto os ventos do mar. Nada que a torne quente e desagradável. Mesmo no verão, quando recebe milhares de turistas, a cidade é fresca e agradável.

Ainda na Cidade Antiga está localizada a Catedral de São Marcos, construída em estilo gótico-renascentista com pedras calcárias extraídas da ilha entre os séculos XV e XVI. Do lado de fora é possível notar a representação de Adão e Eva nus. No seu interior estão as obras Pietà, de Ivan Meštrović (renomado escultor croata), e Anunciação, atribuída a Tintoretto (consagrado pintor italiano). A estátua de São Braz é outra obra de Meštrović que pode ser vista dentro da igreja, bem como uma pintura de Jacopo Bassano, artista italiano. A cúpula, por fim, foi brilhantemente esculpida por Marko Andrijić. Assistimos a uma missa dominical com a comunidade local e a igreja estava repleta. É impressionante como são belos os hinos religiosos, mesmos cantados numa língua tão difícil para nós e como são devotos os croatas, mesmo após anos de dominação comunista.

Localizado em frente à catedral de São Marcos, o Museu da Cidade de Korcula exibe exposições de artistas locais e conta um pouco da história da ilha. Além disso, você encontra uma arquitetura renascentista sem igual e a exposição dos famosos brasões de Korcula. Ainda você pode ver o estatuto da ilha, os primeiros regulamentos e conjuntos de leis que constituem uma parte importante da história. Também não se pode deixar a casa onde se supõe ter nascido marco Polo. O resto do tempo, caminhe pelas ruelas, sente-se em algum dos bares para experimentar o vinho e a comida locais e aprecie a paisagem, que é imperdível!

Dubrovnik, a pérola do Adriático e Cavtat, quase em Montenegro

Dubrovnik é uma das mais belas e visitadas cidades do mar Adriático. Por sua beleza natural e urbanística, e pelo que representa para a história, Dubrovnik é conhecida como “a pérola do Adriático”  ou  a “Atenas eslava”, devido aos seus antigos habitantes a distinguirem como única numa região onde imperava a barbárie e por nela terem proliferado grandes figuras das humanidades e das artes. Dubrovnik é uma cidade rodeada de muralhas e fortificações, no sopé do monte de São Sérgio, que cai a pique sobre as águas do Mediterrâneo. Desde 1979 que o recinto amuralhado está classificado como Patrimônio Mundial pela UNESCO. As imponentes e bem conservadas muralhas, a arquitetura medieval, renascentista e barroca, a paisagem do Adriático, os cafés e restaurantes fazem de Dubrovnik um destino turístico único. A parte antiga é dividida ao meio pela Placa ou Stradun, o passeio público, com cafés e restaurantes, além de diversos monumentos e edifícios históricos. A prosperidade da cidade sempre foi baseada no comércio marítimo. Na Idade Média foi a capital da República de Ragusa, a única cidade-estado no Adriático oriental a rivalizar com Veneza, atingindo o seu apogeu nos séculos XV e XVI. Em 1991 foi cercada e bombardeada por forças militares da Sérvia e Montenegro na sequência da fragmentação da Jugoslávia, o que provocou grandes estragos.

Essa foi a quarta vez que visitei Dubrovnik e, a cada vez, está mais bela e movimentada. A cidade cresceu muito, mantendo inalterada a parte histórica onde está a igreja onde São Brás foi bispo e suas relíquias veneradas. Protetor da garganta, sempre vou lá pedir proteção a ele, já que, como professor, sempre dependi da garganta para viver. Mas, como já conheço bastante a história da cidade e seus monumentos, aproveitei dessa vez para fazer uma visita guiada à cidade de Cavtat (pronuncia-se ‘Saltash’), a quinze quilômetros dali. Nosso guia era um professor de história e deu uma aula sobre a Croácia, a guerra da independência e a luta contra os montenegrinos pela posse daquela região, uma guerra feroz terminada em 1996. Cavtat está quase na fronteira com Montenegro e bem próxima ao aeroporto de Dubrovnik e vale a pena ser visitada, por sua história, pelo belo cenário, por seus monumentos e praias. É um roteiro alternativo e mais barato para os que desejam visitar Dubrovnik e ficar num local mais tranquilo. Vale a pena conhecê-la, fazendo a caminhada que passa atrás da igreja dos franciscanos e termina na entrada da cidade com a bela vista do mar Adriático em todo o percurso de meia hora.

Kotor, pérola do Adriático

Montenegro é um pequeno país dos que vieram a ser independentes após a desintegração da Iugoslávia e um dos mais bonitos da costa adriática. É um país montanhoso, com montanhas escuras que dão nome ao país e que chegam até o mar. Já o havia visitado antes, há poucos anos, numa viagem inesquecível feita pela Croácia, Albânia, Macedônia e Kosovo, passando por Montenegro até a Croácia, de novo. Agora, pudemos conhecer um pouco mais a bela cidade-fortaleza de Kotor e outras situadas na bela baía de Kotor como Perast.

Kotor é uma pérola e está situada num fiorde, pois sua baía  está cercada de altas montanhas, em cujos picos há neve quase o ano todo. A água da baía é de um azul turquesa e ilhotas com antigos mosteiros dão ao cenário uma beleza inigualável. O centro histórico de Kotor é considerado “patrimônio da humanidade” pela Unesco e é uma delícia percorrer suas ruas estreitas, entrar nas centenárias igrejas românicas ou percorrer suas muralhas. Para os mais corajosos, subir os inúmeros degraus até o alto da montanha é um programão, para se tirar belas fotos da baía e da cidade embaixo. Há um museu lá em cima e igreja. Eu não me arrisquei. A idade recomenda prudência e já sei o que é quebrar ou torcer o pé em viagem. Passei por isso em Lalibela, na Etiópia e não quero repetir a experiência.

Após visitar a catedral de São Tryphon (Trifon ? nunca tinha ouvi falar desse santo) , de 1166, e seu museu de relíquias, no andar superior, e percorrer as ruas medievais da cidade histórica , que já pertenceu a gregos, ilírios, romanos, visigodos, bizantinos, venezianos, austríacos, russos, franceses, iugoslavos, e hoje, após a independência do país em 2006, um dos melhores destinos turísticos do litoral adriático, recomendo fazer um passeio no ônibus turístico pela baía de Kotor. Logo na entrada da cidade, belos rapazes e moças estarão vendendo tíquetes do ônibus que oferece os seguintes serviços por vinte euros: Vai-se até Risan, para visitar um museu de mosaicos do período romano, conquistadores do ilírios, que ali viviam, passando pela magnífica baía de Kotor, um percurso de meia-hora com explicações em várias línguas; depois, para-se em Perast, outra cidade medieval, por até uma hora. Ali, se pode almoçar em um dos belos restaurantes com cadeiras e sombrinhas às margens da baía ou, então, como fizemos, comprar lanches e vinhos locais no supermercado e fazer um piquenique à beira-mar, apreciando aquele magnífico cenário. Quem quiser, pode pegar um barco e ir até a ilhota onde está a igreja de Nossa Senhora da Penha ( “Our Lady of the Rocks” ) ou, então, visitar a pequena cidade considerada a mais bem preservada em estilo barroco de Montenegro. Confesso que, após visitar o pequeno museu local à entrada da cidade e ir ao banheiro,  só queria ficar olhando para a baía e curtir aquele momento, o belo dia de  sol outonal, o delicioso vinho da região comprado a módicos dois euros a garrafa pequena e gravar na retina a lembrança daquele dia maravilhoso, num dos cenários mais lindos de tantos que já visitei no mundo. E, claro, dar “gracias a la vida, que me dado tanto”

Corfu e Chios, ilhas gregas de sabores diversos

A Grécia possui centenas ou milhares de ilhas e algumas são especiais como Santorini, Creta,Rodes, Mikonos e tantas mais. Na última viagem, visitei duas delas, Chios e Corfu. Chios está bem próximo à Turquia e ficou famosa como a ilha da árvore do chiclete. Já pertenceu a Gênova, na Idade Média, e Colombo ali residiu por alguns anos, antes de se tornar o famoso descobridor das Américas. Mais precisamente na cidade medieval de Pyrgis, famosa por suas casas com desenhos geométricos. A cidade de Chios mesmo não tem muitos atrativos, o mais interessante é percorrer toda a ilha visitando suas aldeias, praias e mosteiros tombados como patrimônio da humanidade. Chios também é conhecida como a terra de Homero. Um dos pontos turísticos da ilha é a pedra de Homero, onde se diz ter ele escrito a Odisseia. Lenda ou realidade? Todavia, Chios (pronuncia-se ‘Rios”) é uma das maiores ilhas do Egeu ocidental e tem sido, através dos tempos, uma ponte entre o oriente e o ocidente.

Corfu é outra coisa. Localizada à entrada do mar Adriático, é a segunda maior das ilhas iônicas. Está bem próxima à Itália, à Albânia e à Croácia e tem sido, nos últimos séculos, refúgio dos aristocratas europeus, por seu clima mediterrânico. Lá se pode visitar o palácio “Achilleion”, em estilo neoclássico, construído pela imperatriz Elizabeth da Áustria, a famosa Sissi, dos filmes hollywoodianos. Também em Corfu nasceu o marido da atual rainha da Inglaterra, o príncipe Philip,da nobreza grega destronada. A ilha é linda, em qualquer época do ano. No verão, é muito quente, mas nas outras épocas do ano é uma delícia percorrer cada cantinho de uma ilha com tanto passado histórico. Na cidade, não se pode deixar de visitar a velha fortaleza, a catedral de Santo Espiridião, milagroso para os locais, o mosteiro da Virgem Maria, o museu de relíquias orientais, bem na praça principal, a famosa Espianada, considerada uma das mais amplas da Europa.

Cada viajante tem seus hábitos, mas Corfu é um ótimo lugar para se perder por suas ruas antigas, comprar lembrancinhas, pois a Grécia está bem barata em relação a outros países europeus da zona do euro, tirar muitos fotos e, principalmente, sentar-se em uma das cantinas locais e experimentar os vinhos e as cervejas locais, a comida com frutos do mar, para ver as pessoas indo e vindo, como fazem há tantos anos. Corfu é um local de encontros de povos do mundo todo, porta de entrada da Europa continental e só por isso merece ser visitada sempre. Já estive lá três vezes e, certamente, voltarei outras vezes, se puder.