Na Arábia Saudita

      A Arábia Saudita abriu-se, recentemente, para o turismo comum e não somente para o turismo religioso de muçulmanos que vão a Meca. Atualmente, os navios de cruzeiros podem fazer três paradas lá: uma em Damam, no Golfo Pérsico, e duas no Mar Vermelho, em Jeddah e em Yambu. Fui nessas duas últimas. Dá muito trabalho tirar visto para ir à Arábia, mesmo o visto de trânsito facilitado com validade para quatro dias, mas só uma entrada. Há de se preencher o requerimento de entrada no site da embaixada, pagar-se uma taxa de dez dólares e pouco de seguro, e aguardar-se para a aprovação. Essa, se vier, chega dois dias antes de a pessoa desembarcar nas cidades a serem visitadas. O meu chegou e pude descer, primeiramente, em Jeddah, a segunda maior cidade da Arábia depois de Riad, a capital. É o maior porto da Arábia e é considerada a capital comercial do país, sendo considerada a cidade mais rica do Oriente Médio e da Ásia Ocidental. Lá está sendo construído o que virá a ser o maior edifício do mundo, a Torre do Reino, com mais de mil metros de altura. Atualmente, a construção está parada em trezentos metros por problemas com a empreiteira.

   Jeddah é uma cidade ultramoderna, com um paisagismo exuberante à beira-mar, a Corniche deles. Os árabes fazem tudo para apagar tudo o que lembra seu passado medieval e, aos poucos, vão destruindo velhas mesquitas, bairros inteiros vão abaixo e modernos centros comerciais vão surgindo onde antes eram vielas com lojas comerciais, como ainda se pode ver algumas em Al-Balad, o bairro antigo, que vai dando lugar a modernas ruas pavimentadas para automóveis e vias exclusivas para pedestres. Em dias de chegada de navio, pode-se ver grupos acompanhando guias com suas roupas tradicionais, placas na mão e explicando a história do lugar. Jeddah era e é a porta de entrada para Meca, situada a uma hora dali. Por isso, o navio estava repleto de muçulmanos que vestem suas roupas típicas para visitar sua cidade sagrada, onde nasceu Maomé. Só eles podem ir a Meca; não muçulmanos, se transgredirem essa norma, podem ser presos, responder a processo e a fiança é alta, para responder em liberdade. Começa em U$800 dólares.

   Em 2014, a área histórica da cidade, próxima ao porto, com suas edificações centenárias e, em especial, o monumento “Porta para Meca”, passou a constar da lista de Patrimônio Mundial da Unesco, visto que a cidade de Jeddah vem-se desenvolvendo por centenas de anos como porta de passagem para Meca e transformou-se em uma das mais importantes rotas comerciais do Mar Vermelho, além de ser a principal e porta de entrada dos peregrinos com destino à cidade sagrada. Possui um conjunto arquitetônico multicultural singular, erguido ao longo de séculos, devido tanto a sua importância comercial quanto à passagem dos peregrinos. No entanto, o que vi foram muitas obras, uma ânsia de modernização e de ocidentalização como ocorreu também nos Emirados Árabes e em outros países do Golfo Pérsico. Todos sabem que o petróleo não é para sempre e correm para se modernizar, criando outras fontes de renda, como o turismo, os empreendimentos imobiliários e financeiros, para manter sua imensa fortuna gerada pelos petrodólares. Cheguei a Jeddah às vésperas do grande Prêmio de Automobilismo e a televisão transmitia os treinos pelas belas avenidas da Corniche, passando ao lado da Mesquita suspensa sobre ao mar, obra-prima da arquitetura contemporânea.

   Em Yambu, porto industrial, peguei o ônibus para Medina, a segunda cidade sagrada do islamismo, onde morreu e está sepultado Maomé. São três horas de viagem, em autopista de primeiro mundo construída sobre o deserto. Os árabes investem em infraestrutura e por vários quilômetros, vi dezenas de refinarias de petróleo à beira-mar. Depois, só deserto, pequenos oásis onde vivem pastores, pequenos comerciantes, alguns camelos, ovelhas e burricos. Nada plantado. Algumas tamareiras e mais nenhuma vegetação. Surpreendi-me com Medina, que pensava ser uma cidade velha e ruelas medievais. Nada disso. A cidade é moderníssima e vive em torno da Grande Mesquita onde está enterrado o Profeta Maomé. Os não-muçulmanos só podem contemplar seu exterior, suas sombrinhas ultramodernas construídas pelo último rei para proteger do sol escaldante os peregrinos, a beleza de sua arquitetura e ver o local sagrado com teto verde, a cor representativa do Islã, onde foi sepultado o Profeta. Ao lado, se encontra um Museu moderno onde se pode conhecer a história da construção da Mesquita em seus quase 1.500  anos de existência.  Também visitamos uma praça, onde existem quatro mesquitas antigas, onde Maomé pregava, segundo a tradição. E, por último, visitamos a Mesquita de Quba, que, de acordo com  a história, é a mais antiga do mundo, pois foi a primeira fundada por Maomé. Voltamos ao anoitecer, contemplando o belo pôr do sol sobre a segunda cidade mais sagrada do islamismo, Al Madinah, como dizem. Oxalá, um dia, ainda abram a visita a Meca para não muçulmanos.

3 comentários

  1. Danielle · janeiro 18

    Olá! Estava procurando sobre o visto de trânsito da Arábia Saudita e encontrei seu relato; poderia me dizer se esse tipo de visto é físico ou eletrônico (enviado por e-mail)? Pois o que me preocupa é a possível necessidade de enviar os passaportes à embaixada, sendo que nem o contato telefônico estamos conseguindo. Obrigada!

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    • Francisco Aurelio Ribeiro · janeiro 19

      O visto é eletrônico. Tira no site da embaixada.

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