El Salvador, o Pequeno Polegar das Américas

Acabo de chegar de El Salvador, o menor país das Américas, com seus 21 mil quilômetros quadrados e população de mais de sete milhões de pessoas, a maioria mestiços de índios e de europeus. Era o último país que me faltava visitar dentre todos os que constituem as Américas e Caribe, 35 ao todo. É um país que passou por uma guerra civil terrível, de 1980 a 1992, em que morreram milhares de pessoas. Hoje, o país está calmo, e sua maior fonte de sobrevivência é o envio de divisas dos milhares de salvadorenhos que saíram do país e hoje vivem nos EUA, Canadá ou em navios pelo mundo.

San Salvador, a Capital, é uma cidade que se moderniza, rapidamente, com seus centros comerciais e cadeias americanas de lojas e de comidas. Não é uma cidade violenta, perigosa para turistas, pois existem muitos guardas armados à frente de restaurantes, lojas e por todas as partes. Assustei-me, no primeiro dia, pois saí à tardinha para jantar e me deparei com muitos guardas armados à porta dos restaurantes. Depois, vi que isso era normal lá, para garantir a segurança dos cidadãos. Em Salvador, andei de ônibus populares, que são muitos e levam a toda parte, por um preço irrisório, 25 centavos, sem ar condicionado e 35, com ar. O país é, se comparado a outros, barato, e se pode comer e ficar em hotéis por preços razoáveis. Por oito dólares se faz uma boa refeição e por trinta se hospeda em hotel regular, com café da manhã incluído. O povo é bom, simpático, humilde e cordial. Anos e anos de guerra transformaram as pessoas em sobreviventes ansiosos pela paz e pela justiça social, pois ainda há muitas diferenças sociais e econômicas e a maior parte da população luta pela sobrevivência. Todavia, não vi mendigos em excesso e nem muita gente morando nas ruas, como aqui. Só dei esmola uma vez para um idoso, incapacitado de trabalhar, que entrou no ônibus a que me dirigia ao centro, pedindo ajuda. Mesmo assim, trabalhava, vendendo pequenos objetos, o que constitui a maior parte da renda de grande parte da população. É um país que vive da economia informal, pois não tem fábricas e empregos suficientes para todos. A jovens, explorando filhos para conseguir a caridade alheia, ou aos pedintes de porta de igreja, não dou esmolas. No centro, também é comum a presença de jovens que tentam extorquir motoristas, jogando água nos para-brisas dos carros numa velocidade tal, que não se lhes consegue dizer não. Ao contrário dos realmente necessitados, não se conformam com os centavos e reagem agressivamente.

Em El Salvador, se pode fazer turismo de praias, ecológicos ou culturais. O país é pequeno e tem uma diversidade de opções de passeio, menor que a Costa Rica, mas, também, interessante. Na capital, deve ser visitada a Catedral, onde se encontra a cripta do Monsenhor Romero, santificado em 2018 e assassinado em 1980, quando celebrava missa. O bispo Óscar Romero foi um dos maiores nomes da Teologia da Libertação, área da igreja católica socialista, tendo pagado com a vida sua opção pelos pobres. Junto com o futebolista Mágico González, constitui a dupla mais famosa do país no mundo. Outra igreja que deve ser visitada é a do Rosário, cuja obra modernista da década de 1960, é uma joia de arquitetura. Por fora, é feia e não se dá nada por ela. Por dentro, é uma maravilha saída da mente luminosa do arquiteto local Rubén Martínez. Também no centro, deve-se visitar o Palácio do Governo, em restauração e o Teatro Nacional, dentre outros sítios históricos. Perto de Salvador, é imprescindível subir ao El Boquerón, o maior vulcão da cidade, passear pelo parque bem preservado com seus pássaros nativos, dentre os quais o belo Torogoz, a ave nacional. Fora da cidade, fui ao Cerro Verde, outro parque nacional, onde se situam os maiores vulcões do país, já perto de Santa Ana, a segunda maior cidade, e o belo lago de Coatepeque, a oitava maravilha natural do mundo.

El Salvador também possui ruínas maias, embora as maiores estejam no México, na Guatemala e em Honduras. Fui visitar as de San Andrés, em La Libertad, e Joya de Cerén, o único Patrimônio da Humanidade do país, decretado em 1993 pela Unesco, antigo povoado maia, sepultado pelas cinzas do vulcão Ilamatepec, há centenas de anos, só recentemente descoberto. Enfim, El Salvador é uma boa surpresa para os que já viram muito, mas ainda acham que sempre há algo mais para descobrir no mundo. Aos guias Eduardo e Irving, meus agradecimentos pelas lições que me deram sobre seu país.