Pelos países do Báltico

Durante algum tempo, eu tive um “penfriend” da Lituânia, o Algius, com quem trocava selos. O país dele tinha acabado de se tornar independente, após a separação da URSS, no início dos nos 1990. Ficava a imaginar como poderiam ser aqueles três países tão pequenos, Estônia, Letônia e Lituânia, banhados pelo Mar Báltico e não tinha a menor ideia de como fossem. O Algius dizia sentir o mesmo em relação a Paraguai, Uruguai e Equador. Do Brasil, ele conhecia o futebol, o café e as mulatas do Carnaval. Eu, da Lituânia, só tinha ouvido falar do time de basquete, na época das Olimpíadas.

Recentemente, pude visitar esses três países. Tallin, uma bela cidade medieval, capital da Estônia, eu já conhecera, há uns três anos, mas foi bom revê-la e ver como os estonianos se adaptaram logo à economia de mercado e, como tratam muito bem os turistas, Tallin se tornou uma das principais rotas de navios de cruzeiro, no período de maio a setembro, quando se pode ir lá. Em outras épocas, o frio é muito, o vento terrível e, no auge do inverno, o mar chega a congelar.

A Letônia, conheci agora, mas é o menos desenvolvido dos três. O país está tentando se reerguer e se adaptar à inclusão na União Européia; contudo, a maioria dos jovens prefere tentar a vida em lugares menos frios e com mais oferta de trabalho. Riga é uma bela cidade, pois foi centro da burguesia e da nobreza russa, como São Petersburgo, mas parece uma cidade fantasma, que só vive à custa do turismo. Tem poucos moradores fixos e não aparenta ter vida própria fora da temporada turística. No resto do ano, não sei como aquele povo vive, mas vive, pois a cidade tem mais de 800 anos.

 

A Lituânia, país do Álgius, mandou muitos imigrantes para o Brasil, desde o domínio comunista, que vivem mais no sul do país. De lá, conhecemos o porto de Klaipeda, bastante abandonado após a saída dos russos, mas tentando se levantar com o turismo. A cidade é simpática e foi sede dos nazistas, na II Guerra. Hitler discursou do balcão do teatro na praça central.Alguns tripulantes brasileiros nos contaram de experiências negativas com jovens neonazistas, que abominam todos os que lhes são diferentes. Lá, visitamos a praia de Palanga, onde existe um museu do âmbar, no antigo palácio Tiskericiu. A cerveja local é muito boa, ainda barata, se comparada aos preços europeus. Nossas guias, tanto na Letônia quanto na Lituânia, eram jovens e muito simpáticas. Estonianos, letões e lituanos são um povo simples, simpático, valente, pois sobreviveram à disputa de grandes impérios. Sua história é a da resistência e é um milagre sua sobrevivência, já que outros países tão antigos como o deles, a Pomerânia, por exemplo, já desapareceram. Também por isso, valeu a pena conhecê-los, ainda que rapidamente.

Namíbia, país de desertos

Desde o alto, ao se aproximar de Windhoek, a capital, já se pode constatar o quanto a Namíbia é um país desértico. O aeroporto internacional situa-se no meio do nada, sem uma aglomeração urbana por perto. Diferente do que estamos acostumados a ver em outros lugares, não há construções, prédios, monumentos, nada. Só a savana, com sua vegetação típica de pré- deserto, com árvores esparsas, vento, e nada mais. Há poucos voos, o aeroporto não funciona à noite, todos os funcionários vão embora e um portão fecha a entrada pela segurança. Nunca tinha visto nada assim, nem mesmo no Suriname, que também tem um aeroporto no meio do nada.

Faz muito calor durante o dia, e chove à tarde ou à noite, nesta época do ano, verão, como no Brasil. Windhoek (pronuncia-se “Vinduk”) situa-se na mesma altura geográfica do Rio de Janeiro, é uma cidade pequena, moderna, tranquila, plana, fácil de caminhar e com poucas atrações turísticas. Gostei de ter visitado o Museu Nacional, onde se pode conhecer um pouco mais do país e de sua diversidade. Sua independência é recente, desde 1992, quando se separou da África do Sul. Antes era a WSA (“West South Africa”), mas a identidade com o país irmão é tão grande que se pode usar a moeda sul-africana, o Rand, sem necessidade de convertê-la ao dólar namibiano.

É a Namíbia um país com grande diversidade étnica e cultural. Os nacionais convivem com várias etnias e falam, normalmente, diferentes línguas, tendo o inglês como língua oficial. Também se fala o alemão e o africâner, uma língua derivada do colonizador holandês, alemão e francês, marca ainda muito forte e que se pode observar nos nomes das ruas, na comida e na boa cerveja fabricada no país. A Windhoek é a mais comum. São, ainda, os africâneres os principais donos das fazendas, dos hotéis, das empresas de turismo e ainda não é tão forte a presença de uma classe emergente e política dos negros, como se observa na África do Sul. Faltou aqui um Mandela, talvez. Também são de alemães os principais grupos de turistas que visitam o país, para conhecer as belezas naturais da Namíbia, seus desertos, a vida selvagem preservada nos parques naturais, sendo o Etosha o maior deles. Também encontrei muitos angolanos que vão à Namíbia para fazer compras, por isso o português é uma das línguas ouvidas pelas ruas e em algumas lojas e farmácia vi escrito: “Aqui se fala português”. Também há camelôs angolanos, vendendo artesanatos e produtos chineses pelas ruas. O povo é muito gentil, não há violência, roubos, assaltos, drogados e se pode caminhar pelas ruas a qualquer hora do dia e da noite, sem medo.

Daqui a alguns anos, a Namíbia será uma boa extensão para os turistas brasileiros que visitarem a África do Sul. E, quem sabe, de lá, ir até Angola, país irmão que, por enquanto, não tem nenhuma infraestrutura turística, além de ter em Luanda uma das cidades mais caras e perigosas do mundo. Por enquanto, a Namíbia não oferece muitos atrativos e sua estrutura para um turismo de classe média é precária. Somente é procurada por milionários, que fazem safáris lá e em Botswana, país vizinho, e não são safáris fotográficos, daqueles em que os animais são apenas fotografados. Muitos vão lá para matar os grandes cinco animais selvagens: elefante, leão, búfalo, rinoceronte, leopardo, pagando alto preço para ter um troféu na parede. Para mim, só valeu a pena ir à Namíbia, para acrescentar mais um país na minha já extensa lista de países “exóticos” visitados. Mas, convenhamos, “exóticos” somos todos nós, não?

Nas Cataratas Vitória, África

Na fronteira entre a Zâmbia e o Zimbabwe, encontram-se as “Cataratas Vitória”, uma das maiores e mais bonitas da África, assim nomeadas pelo Dr. Livingstone, “I presume”, em 1855, em homenagem à toda poderosa Rainha Vitória da Inglaterra. Para mim, que já me deslumbrei com a grandiosidade de Iguaçu e de Niágara, não é tão impressionante, mas cada uma tem sua beleza específica e, por isso, vale a pena visitá-la, sem tanto sacrifício para chegar lá. O voo de Johanesburg até Victoria Falls, no Zimbawe, ou Livingstone, na Zâmbia, é pouco mais de uma hora e a burocracia no aeroporto é mínima. Paga-se uma taxa para o visto, dependendo se for uma ou mais entrada, e logo você é recebido por bailarinos negros, evidentemente, que o acompanharão com seus gritos, saltos e batuques, em todos os lugares. Se for fazer um cruzeiro ao entardecer pelo rio Zambeze, o que é absolutamente indispensável, lá estarão eles, com seus cantos e simpatia. À noite, no restaurante do hotel, também dançarão e cantarão, interagindo com os turistas. Os japoneses ficam extasiados, fotografando e filmando tudo.

O ideal é sair bem cedo, para visitar as Cataratas Vitória, antes dos grupos de japoneses chegarem. Se for madrugador, tome o café da manhã às seis e trinta, para, às sete, quando o parque abrir, já pegar sua capa de chuva, indispensável, uma sandália de borracha e se preparar para se molhar todo, pois a neblina é forte, os pingos das quedas d’água o molham todo, o que não é tão desagradável pelo calor que se faz. Caminha-se pouco mais de um quilômetro, fotografando as várias quedas do lado da Zâmbia e sendo acompanhado por macacos típicos da região, uma espécie que tem os ovos (escrotos) azuis.

Zâmbia, Zimbawe e Malawi são países irmãos, pois ambos pertenciam à antiga Rodésia, separando-se no processo de descolonização dos anos 1960 a 1980. O Zimbabwe tem o mesmo “Presidente”, desde 1980 que, a cada dez anos, é “reeleito” por “voto popular”. Na última “eleição”, há dez anos, prometeu luz elétrica para todos, mas não cumpriu. Apesar da abundância de rios, na região, dentre os quais o Zambeze, o quarto maior da África, e o Limpopo, a maioria da população vive no escuro, em choças, sem água encanada e esgoto. É um sistema tribal, ainda. Mugabe tem 90 anos e foi reeleito, em 2013, quando estive lá,para mais dez anos de mandato. A Zâmbia é mais adiantada, tem governo democrático e um excelente futebol. Foram os campeões da África, em 2011. Livingstone, às margens do rio Zambeze, das Cataratas Victoria, foi a primeira capital da Zâmbia e tem um excelente museu a ser visitado. Ao contrário do Zimbawe, que adotou o dólar como moeda, após uma megainflação, tem moeda própria, o quacha.

Fiquei no Zimbawe, no hotel Kingdom, excelente, também às margens do rio Zambeze e bem próximo das cataratas. À Noite, quase não se vê ninguém, nas ruas da pequena cidade de Victoria Falls. Eles não saem à noite, pois temem os animais silvestres, que estão soltos, já que vivem dentro de um parque natural. Além do cruzeiro pelo rio Zambeze, onde se pode avistar hipopótamos e crocodilos, e inúmeras aves, enquanto se toma a boa cerveja local, a Zambeze, recomendo um safári nas costas dos elefantes. É um dos poucos lugares do mundo onde se pode avistar outros animais, dentro de um parque selvagem, montado em elefantes e não em jipes. Também oferecem passeio de helicóptero sobre as cataratas, que não fiz, visita a fazendas de criação de leões e um safári de dia inteiro ao parque Kobe, que está situado na fronteira onde 4 países se encontram: Zimbawe, Zâmbia, Namíbia e Botswana. Imperdível!