Monte Saint-Michel, joia francesa

Desde a primeira vez que fui à França, há trinta anos, desejava visitar o Monte Saint-Michel. Mas, a França é tão linda, há tantos lugares importantes a conhecer, e Saint-Michel fica tão longe de Paris, que essa viagem era sempre adiada. Agora, no último abril, chegou a hora de visitar Saint-Michel, a tão celebrada abadia e um dos lugares mais visitados da França e do mundo. Saímos de Cherbourg, o porto tão importante durante as lutas da II Guerra Mundial, e das praias da Normandia onde desembarcaram os exércitos aliados para libertar a Europa das forças nazistas e fascistas, atravessando toda a Normandia, de norte a sul, até o rochedo onde se situa a imponente abadia de Saint-Michel, cuja construção levou uma centena de anos, desde 708, quando Aubert, o bispo de Avranches, recebeu diretamente do arcanjo Miguel, chefe das hostes celestiais,a ordem de construir sobre o rochedo uma igreja a ele dedicada.

   Saint-Michel, além de ser uma igreja para cultos religiosos, sempre foi uma fortaleza. Sua construção é uma obra-prima da arquitetura medieval, pois os arquitetos construíram muralhas de grossas colunas, que abrigavam uma capela hospitalar e adega, no piso inferior; no segundo andar, uma sala dos hóspedes e dos cavaleiros com abóbodas em ogivas para sustentar o terceiro andar, onde se localizam o refeitório e o claustro dos monges que aí viviam. Saint-Michel sempre esteve no centro das disputas territoriais e políticas entre normandos e francos, franceses e ingleses, por isso, não tem apenas importância religiosa; por sua importância estratégica, foi sempre disputada por grupos rivais, em todas as épocas. Embora tenha sido um centro de peregrinação, em toda a Idade Média, não tem a mesma força religiosa de Santiago de Compostela, nos dias atuais. Confesso, que não me decepcionei com a visita a Saint-Michel, tão desejada por todos esses anos, mas não me ajoelhei e rezei como faço em outros lugares santos a que tenho visitado. São tantos turistas, é tanta gente ouvindo guias a falar em diversas línguas, há tanta fila para subir, descer, comer ou beber, que tudo se torna um exercício de muita paciência, coisa que já não se tem sobrando, com o passar dos anos. Talvez, se tivesse ido a Saint-Michel, na juventude, quando subi a Torre Eiffel, pela primeira vez, teria apreciado com mais sabor esse lugar tão especial.