Áqaba, na Jordânia

Áqaba, na Jordânia   Creio que se pode considerar a Jordânia uma ilha de relativa paz, no meio de vizinhos belicosos. Ao norte, está a Síria, vivendo uma guerra insana e fratricida há doze anos. Estive na Síria, um ano antes da guerra, e a situação já estava se deteriorando. De lá, entramos na Jordânia, para irmos a Jerash, uma cidade romana ainda bem conservada e, onde, conforme relatos bíblicos, Jesus esteve em pregação. De lá, fomos a Ammam, visitamos Petra, a cidade dos nabateus que tinha sido declarada Maravilha da Humanidade o Deserto de Wadi Rum, com suas areias coloridas e onde foi filmado o Lawrence da Arábia. Faltava visitar Áqaba, o que fiz, agora, num cruzeiro pelo Mar Vermelho. É a cidade que dá nome ao Golfo de Áqaba e é vizinha de Eilat, em Israel, que já visitei, e de lá também se avista o Egito, onde o sol se põe.

   Adorei Áqaba, pois queria nadar no Mar Vermelho e lá o pude fazer. Na Arábia e no Egito, fica mais difícil, pois não há praias públicas, só as ligadas aos resorts. Melhor ainda para os que gostam de mergulhar, pois é o fundo do mar que dá o nome ao Mar Vermelho. Por cima, a água é azul turquesa, límpida, e o vermelho vem das algas do seu fundo. Como não mergulhei, não as pude contemplar. Após o rigor do controle de segurança tanto no Egito quanto na Arábia, entrar na Jordânia foi como chegar ao paraíso. Foi só mostrar o passaporte, carimbar a entrada e se dirigir ao ônibus gratuito que leva os passageiros do porto ao centro da cidade. Lá, havia o assédio dos taxistas, oferecendo passeios a Petra ou a Wadi Rum, que já tinha visitado. Agradeci e lhes disse que gostaria de curtir a cidade por mim mesmo. Entenderam e não me amolaram mais.

   Peguei um ônibus para fazer um city-tour, paguei apenas 5 euros, e fiz um passeio de quarenta minutos pela orla, subindo até um local mais elevado, de onde se pode avistar três países: Jordânia, Israel e Egito. Com isso, também me localizei para poder caminhar pela cidade e identificar os lugares aonde gostaria de ir: a praia, algumas comprinhas e locais para se tomar uma cerveja gelada. É o único país muçulmano da região, em que se pode fazer isso, sem restrições.  No Egito, só em lugares reservados a turistas, hotéis e restaurantes; na Arábia Saudita, em lugar nenhum. Até o navio que ficou 48h no país, não pôde servir bebida alcoólica. Ai de quem comprou pacote de bebida no navio! Dos sete dias de cruzeiros, dois dias na Arábia e o dia do desembarque não se pôde servir bebida, ou seja, pagou e não pôde consumir.

   Áqaba é uma cidade pequena, acolhedora, excelente comércio, bonita, moderna. Os jordanianos são muçulmanos light, não são repressores como árabes e egípcios, aceitaram a civilização ocidental com facilidade, sobretudo após Petra ter sido declarada Patrimônio da Humanidade. A chegada de turistas em grande escala trouxe ao país emprego, estabilidade econômica e social. Não se veem tantos pobres na rua, como no Egito, e nem mulheres encapuzadas como na Arábia. Total segurança, mesmo sem ter tanto controle de segurança como nos dois outros antes visitados. Enfim, é uma cidade que se respira paz e tranquilidade, um oásis, após tanto deserto.

   Caminhei, fiz compras, tomei cerveja e fui à praia, como em qualquer outra cidade do mundo ocidental a que já estou acostumado. Fotografei a grande mesquita, os modernos palacetes, as ruas limpas e bem cuidadas, o paisagismo. Não me senti atraído a ver ruínas ou museus, embora os haja. Queria paz, tranquilidade e nem me interessava mais acrescentar nenhum conhecimento ao tanto que já tinha aprendido no Egito e na Arábia. Queria curtir um dia de lazer, sem guia a falar ininterruptamente, sem relógio para controlar o tempo, para ver ou comer,  exceto o de voltar para o navio, claro, sem atribulações. E tudo isso obtive em Áqaba, na Jordânia. Pena que acaba rs.

Na Arábia Saudita

      A Arábia Saudita abriu-se, recentemente, para o turismo comum e não somente para o turismo religioso de muçulmanos que vão a Meca. Atualmente, os navios de cruzeiros podem fazer três paradas lá: uma em Damam, no Golfo Pérsico, e duas no Mar Vermelho, em Jeddah e em Yambu. Fui nessas duas últimas. Dá muito trabalho tirar visto para ir à Arábia, mesmo o visto de trânsito facilitado com validade para quatro dias, mas só uma entrada. Há de se preencher o requerimento de entrada no site da embaixada, pagar-se uma taxa de dez dólares e pouco de seguro, e aguardar-se para a aprovação. Essa, se vier, chega dois dias antes de a pessoa desembarcar nas cidades a serem visitadas. O meu chegou e pude descer, primeiramente, em Jeddah, a segunda maior cidade da Arábia depois de Riad, a capital. É o maior porto da Arábia e é considerada a capital comercial do país, sendo considerada a cidade mais rica do Oriente Médio e da Ásia Ocidental. Lá está sendo construído o que virá a ser o maior edifício do mundo, a Torre do Reino, com mais de mil metros de altura. Atualmente, a construção está parada em trezentos metros por problemas com a empreiteira.

   Jeddah é uma cidade ultramoderna, com um paisagismo exuberante à beira-mar, a Corniche deles. Os árabes fazem tudo para apagar tudo o que lembra seu passado medieval e, aos poucos, vão destruindo velhas mesquitas, bairros inteiros vão abaixo e modernos centros comerciais vão surgindo onde antes eram vielas com lojas comerciais, como ainda se pode ver algumas em Al-Balad, o bairro antigo, que vai dando lugar a modernas ruas pavimentadas para automóveis e vias exclusivas para pedestres. Em dias de chegada de navio, pode-se ver grupos acompanhando guias com suas roupas tradicionais, placas na mão e explicando a história do lugar. Jeddah era e é a porta de entrada para Meca, situada a uma hora dali. Por isso, o navio estava repleto de muçulmanos que vestem suas roupas típicas para visitar sua cidade sagrada, onde nasceu Maomé. Só eles podem ir a Meca; não muçulmanos, se transgredirem essa norma, podem ser presos, responder a processo e a fiança é alta, para responder em liberdade. Começa em U$800 dólares.

   Em 2014, a área histórica da cidade, próxima ao porto, com suas edificações centenárias e, em especial, o monumento “Porta para Meca”, passou a constar da lista de Patrimônio Mundial da Unesco, visto que a cidade de Jeddah vem-se desenvolvendo por centenas de anos como porta de passagem para Meca e transformou-se em uma das mais importantes rotas comerciais do Mar Vermelho, além de ser a principal e porta de entrada dos peregrinos com destino à cidade sagrada. Possui um conjunto arquitetônico multicultural singular, erguido ao longo de séculos, devido tanto a sua importância comercial quanto à passagem dos peregrinos. No entanto, o que vi foram muitas obras, uma ânsia de modernização e de ocidentalização como ocorreu também nos Emirados Árabes e em outros países do Golfo Pérsico. Todos sabem que o petróleo não é para sempre e correm para se modernizar, criando outras fontes de renda, como o turismo, os empreendimentos imobiliários e financeiros, para manter sua imensa fortuna gerada pelos petrodólares. Cheguei a Jeddah às vésperas do grande Prêmio de Automobilismo e a televisão transmitia os treinos pelas belas avenidas da Corniche, passando ao lado da Mesquita suspensa sobre ao mar, obra-prima da arquitetura contemporânea.

   Em Yambu, porto industrial, peguei o ônibus para Medina, a segunda cidade sagrada do islamismo, onde morreu e está sepultado Maomé. São três horas de viagem, em autopista de primeiro mundo construída sobre o deserto. Os árabes investem em infraestrutura e por vários quilômetros, vi dezenas de refinarias de petróleo à beira-mar. Depois, só deserto, pequenos oásis onde vivem pastores, pequenos comerciantes, alguns camelos, ovelhas e burricos. Nada plantado. Algumas tamareiras e mais nenhuma vegetação. Surpreendi-me com Medina, que pensava ser uma cidade velha e ruelas medievais. Nada disso. A cidade é moderníssima e vive em torno da Grande Mesquita onde está enterrado o Profeta Maomé. Os não-muçulmanos só podem contemplar seu exterior, suas sombrinhas ultramodernas construídas pelo último rei para proteger do sol escaldante os peregrinos, a beleza de sua arquitetura e ver o local sagrado com teto verde, a cor representativa do Islã, onde foi sepultado o Profeta. Ao lado, se encontra um Museu moderno onde se pode conhecer a história da construção da Mesquita em seus quase 1.500  anos de existência.  Também visitamos uma praça, onde existem quatro mesquitas antigas, onde Maomé pregava, segundo a tradição. E, por último, visitamos a Mesquita de Quba, que, de acordo com  a história, é a mais antiga do mundo, pois foi a primeira fundada por Maomé. Voltamos ao anoitecer, contemplando o belo pôr do sol sobre a segunda cidade mais sagrada do islamismo, Al Madinah, como dizem. Oxalá, um dia, ainda abram a visita a Meca para não muçulmanos.

Impressões do Egito

   Volto ao Egito, pela terceira vez. Estive lá há 35 anos, em 1988, depois em 2012 e, agora. O país se transformou muito, nessas três décadas. O turismo voltou com força, após passar maus pedaços com ações terroristas: sequestro de ônibus de turistas no Sinai, ataques a voos em Sharm-el-Sheik, insegurança nos lugares turísticos. Não é um paraíso. Cairo é uma das cidades mais caóticas do mundo, com seus cerca de vinte e cinco milhões de habitantes divididos entre Giza e Cairo, nas duas margens do Rio Nilo. O país não tem qualquer política ambiental. Por todo lado se vê lixo amontoado, contaminação ambiental na água, terra e ar. O trânsito caótico do Cairo não dá espaço a pedestres. Lá, ninguém pode caminhar, pois não há sinal de trânsito e pedestre ou ciclista não têm vez. O controle de segurança é rígido, nos hotéis, aeroportos e rodovias. Não se anda muito sem ter de parar em cheque-points. Ou seja, não é tranquilo fazer turismo no Egito. Ainda há muito risco para o turista, por mais que haja controle de segurança.

   O que, no entanto, faz com que milhares de turistas para lá se desloquem, de todas as partes do mundo? Resposta fácil: seu passado histórico. O Egito concentra milhares de anos de muita história e por toda parte se pode visitar o que esse país representou na história da humanidade, há cinco mil anos. Talvez tenha sido um dos primeiros países a organizar o turismo em função de seu patrimônio histórico, desde o século XIX. Naquela época, nosso Imperador D. Pedro II, sábio viajante, esteve lá para visitar esse tesouro da humanidade e trouxe de lembrança do rei de lá alguns presentes como a múmia do sacerdote queimada no incêndio do Museu Nacional. Talvez seja hora de o Lula visitar o Egito e trazer de lá outra múmia, pois têm milhares. Recentemente, foram descobertas umas trezentas, ocultas sob as pirâmides de Sakhara.

   O que me espantou, nessa última viagem ao Egito, foi o surto imobiliário que se desenvolve em direção às pirâmides e à esfinge de Gizé. Na primeira vez em que estive lá, as pirâmides e as esfinge estavam retiradas da cidade. Agora, estão, praticamente, dentro dela. Hoje, se pode alugar apartamentos ou ficar em hotéis com vista para elas, constrói-se um novo museu ao lado das pirâmides, e um shopping center já funciona bem em frente às pirâmides. Ou seja, não há qualquer proteção ao sítio histórico dessa que é a única sobrevivente das maravilhas do mundo antigo, ainda admirada até hoje. Dizem que vão reconstruir o Farol de Alexandria, há muito destruído, e talvez até a famosa biblioteca de Alexandria venha a renascer para guardar os preciosos papiros que ainda se encontram enrolando as múmias descobertas.

   Mas o Egito não é só o Cairo, há também Luxor e Karnac, e o Vale dos Reis. No Mediterrâneo, Alexandria e Port Said, cidades turísticas de cruzeiros; dessa vez, conheci também o turismo do azulíssimo Mar Vermelho, embarcando em Sokhna e visitando Sofaga e a bela Hurghada. Há excelentes resorts à beira do Mar Vermelho e modernas autopistas levam a esses destinos paradisíacos. Também se pode fazer um cruzeiro pelo Nilo, indo a Abu Simbel e a outras paradas, curtindo relíquias restauradas de um tempo histórico, que nos deslumbram até hoje. Por isso, tanta gente vai ao Egito, apesar do perrengue, do calor, da insegurança, das filas, das lojas-arapuca, da comida, da poluição, do trânsito etc. Pelo seu passado histórico, vale a pena visitar o Egito e  até voltar, como fiz recentemente.

Las Palmas da Grã-Canária, pérola do Atlântico

Depois de dois anos e meio afastados de cruzeiros, eis-nos de volta a eles, para uma travessia do Atlântico, do Rio de Janeiro a Genova, na Itália, caminho inverso ao feito por nossos avós, há 130 anos. Inicialmente, estavam previstas paradas em Santa Cruz de La Palma, Las Palmas de Grã Canária e Santa Cruz de Tenerife, mas, após uma semana de céu e mar e a visita de alguns golfinhos, recebemos comunicado do comandante de que o roteiro tinha sido alterado, por “necessidade operacional”, ou seja, “falta de combustível”.  Inimaginável uma situação desta, visto que o navio ficou dois meses parado. Houve um começo de revolta entre os passageiros, alguma compensação foi oferecida, mas nos sentimos lesados, visto que o principal objetivo ao ter escolhido este cruzeiro foi visitar La Laguna, em Tenerife, e a Casa onde nasceu o Pe. José de Anchieta, hoje, Santo. Ele é considerado o “Apóstolo do Brasil”, fundou São Paulo e foi enterrado em Reritiba, atual Anchieta, no Espírito Santo, meu estado natal. Por sinal, a única excursão que havia comprado era a pra visitar Laguna e o museu antropológico. Anchieta foi o iniciador da literatura em terras brasílicas, com suas poesias à Virgem e seu teatro de catequese. Fiquei, literalmente, sem chão, frustrado e inconformado. O comandante ofereceu 500 tíquetes de ferry-boat a quem quisesse ir a Tenerife, mas não consegui pegar e, mesmo se o conseguisse, talvez não pudesse ir a Laguna, pelo, pouco tempo destinado a essa aventura.

   Las Palmas é uma grande cidade, a maior do arquipélago das Canárias, com seus 600 mil habitantes e um dos centros do turismo europeu. Pessoas da Escandinávia a procuram o ano todo, fugindo dom frio e das terras geladas do norte europeu. Las Palmas tem um clima médio de 22oC, tido como o melhor do mundo, uma eterna primavera, nem muito quente, nem frio. Quando chegamos, estava 18oC, uma delícia para caminhar pelas ruas antigas da velha cidade. Saímos para um passeio noturno pela cidade e nos admiramos com o clima ameno, a tranquilidade de suas ruas e praças, a total ausência de insegurança que nos domina no Brasil. O clima gostoso nos convidava a tomar um vinho e comermos tapas espanhóis, ou canarinos, na secular Praça de Sant’Ana, em frente à vetusta catedral de mais de 500 anos, curtindo o prazer de estar em terra, após tantos dias de mar, o clima agradável, a companhia de amigos recém-conquistados. No dia seguinte, fizemos compras, visitamos a majestosa catedral, cuja construção se iniciou em 1.500, imponente em seu estilo gótico-neoclássico, o museu diocesano com suas relíquias eclesiásticas e o claustro com pés de mamão e palmas que dão nome à cidade. Caminhamos mais um pouco pelas ruas centenárias, visitamos a Casa de Colombo, mas nos faltou tempo para visitar a Casa-museu de Perez Galdós, o escritor mais famoso da ilha e ídolo local. Há de se destacar a simpatia dos nativos com os turistas, os bons preços de perfumes e produtos importados, visto que os impostos ali são de apenas 7% e a vontade de voltar, um dia, para curtir suas praias, museus, montanhas, parques. Visita em navio sempre termina assim: fica-se com gostinho de quero voltar. E Las Palmas, com certeza, é destino certo para se retornar, um dia.

Depois de dois anos e meio afastados de cruzeiros, eis-nos de volta a eles, para uma travessia do Atlântico, do Rio de Janeiro a Genova, na Itália, caminho inverso ao feito por nossos avós, há 130 anos. Inicialmente, estavam previstas paradas em Santa Cruz de La Palma, Las Palmas de Grã Canária e Santa Cruz de Tenerife, mas, após uma semana de céu e mar e a visita de alguns golfinhos, recebemos comunicado do comandante de que o roteiro tinha sido alterado, por “necessidade operacional”, ou seja, “falta de combustível”.  Inimaginável uma situação desta, visto que o navio ficou dois meses parado. Houve um começo de revolta entre os passageiros, alguma compensação foi oferecida, mas nos sentimos lesados, visto que o principal objetivo ao ter escolhido este cruzeiro foi visitar La Laguna, em Tenerife, e a Casa onde nasceu o Pe. José de Anchieta, hoje, Santo. Ele é considerado o “Apóstolo do Brasil”, fundou São Paulo e foi enterrado em Reritiba, atual Anchieta, no Espírito Santo, meu estado natal. Por sinal, a única excursão que havia comprado era a pra visitar Laguna e o museu antropológico. Anchieta foi o iniciador da literatura em terras brasílicas, com suas poesias à Virgem e seu teatro de catequese. Fiquei, literalmente, sem chão, frustrado e inconformado. O comandante ofereceu 500 tíquetes de ferry-boat a quem quisesse ir a Tenerife, mas não consegui pegar e, mesmo se o conseguisse, talvez não pudesse ir a Laguna, pelo, pouco tempo destinado a essa aventura.

   Las Palmas é uma grande cidade, a maior do arquipélago das Canárias, com seus 600 mil habitantes e um dos centros do turismo europeu. Pessoas da Escandinávia a procuram o ano todo, fugindo dom frio e das terras geladas do norte europeu. Las Palmas tem um clima médio de 22oC, tido como o melhor do mundo, uma eterna primavera, nem muito quente, nem frio. Quando chegamos, estava 18oC, uma delícia para caminhar pelas ruas antigas da velha cidade. Saímos para um passeio noturno pela cidade e nos admiramos com o clima ameno, a tranquilidade de suas ruas e praças, a total ausência de insegurança que nos domina no Brasil. O clima gostoso nos convidava a tomar um vinho e comermos tapas espanhóis, ou canarinos, na secular Praça de Sant’Ana, em frente à vetusta catedral de mais de 500 anos, curtindo o prazer de estar em terra, após tantos dias de mar, o clima agradável, a companhia de amigos recém-conquistados. No dia seguinte, fizemos compras, visitamos a majestosa catedral, cuja construção se iniciou em 1.500, imponente em seu estilo gótico-neoclássico, o museu diocesano com suas relíquias eclesiásticas e o claustro com pés de mamão e palmas que dão nome à cidade. Caminhamos mais um pouco pelas ruas centenárias, visitamos a Casa de Colombo, mas nos faltou tempo para visitar a Casa-museu de Perez Galdós, o escritor mais famoso da ilha e ídolo local. Há de se destacar a simpatia dos nativos com os turistas, os bons preços de perfumes e produtos importados, visto que os impostos ali são de apenas 7% e a vontade de voltar, um dia, para curtir suas praias, museus, montanhas, parques. Visita em navio sempre termina assim: fica-se com gostinho de quero voltar. E Las Palmas, com certeza, é destino certo para se retornar, um dia.

San Salvador, simpática capital de um pequeno país

San Salvador, a capital de El Salvador, na América Central, é uma cidade de porte médio, com cerca de 500 mil habitantes, embora a população seja bem maior, pois a área metropolitana compreende vários municípios interligados como Santa Tecla, San Marcos, Mejicanos, dentre outros. É uma cidade montanhosa, espalhada entre cadeias vulcânicas e, por isso, tem sofrido grandes devastações sísmicas como as ocorridas em 1917, 1919 e 1986. O novo aeroporto internacional está situado a cinquenta quilômetros da cidade e chama-se Monsenhor Óscar Romero, o grande herói nacional, assassinado em 1980. Canonizado em 2018, o túmulo de Dom Romero, no subsolo da Catedral, é ponto de romaria para milhares de devotos. O outro herói nacional é o futebolista “Mágico” González, que nomeia um dos estádios locais.

Confesso que me senti tranquilo em San Salvador, que já foi considerada uma das cidades mais perigosas das Américas, por causa das “maras”, gangues de delinquentes que dominavam o centro da cidade e a região periférica. Andei a pé pela cidade, frequentei bares e restaurantes, caminhei pelo centro, entre os ambulantes e não senti a menor insegurança, como tenho, às vezes, em cidades de meu país. O povo é supersimpático, simples, cordial. Experimentei e gostei das “pupusas”, prato típico do país, uma espécie de minipizza em que não se enxerga o recheio, que pode ser de queijo, carne ou algum legume. Também gostei do café da manhã típico, feito de tutu de feijão com um pouco de arroz cozido, banana da terra frita (a que os falantes de espanhol chamam “plátano”), ovos mexidos e pãezinhos doces com um creme de leite desnatado. É uma delícia e sustenta por boa parte do dia. Não é uma cidade careira e se come bem por dez dólares. O churrasco deles é uma carne argentina, muito macia, acompanhada de um molho de tomate e cebola, bananas fritas e o tal tutu de feijão com arroz,que, parece, eles comem como acompanhamento de muitos pratos.

A cidade é bem provida de parques, de shoppings, de praças e de alguma área verde. Despertaram um pouco tarde para a conservação ambiental, comol me disse o guia, talvez até em função da violenta guerra civil, que matou e expulsou tanta gente, de 1980 a 1992. Desde então, o país vive em paz, luta para se desenvolver e a cidade possui alguns pontos turísticos de interesse como a Catedral, igrejas, o Teatro e o Palácio Nacional, o Museu de Arqueologia e o de Artes. Uns cinco dias na cidade são suficientes para se conhecer a maior parte delas, mas para visitar vulcões, lagos e ruínas maias, é necessário um pouco mais, pois se encontram fora da capital. Dizem os salvadorenhos que é o “país dos 45 minutos”, pois se pode ir a qualquer parte nesse tempo, mas é brincadeira, pois o tráfico é pesado e até para ir pro aeroporto pode-se gastar mais que isso. O país e sua capital são pequenos, mas simpáticos e agradáveis para se visitar. O escritor francês Antoine de Saint-Exupéry, o famosos autor de O Pequeno Príncipe, se casou, em Buenos Aires, com uma jovem viúva salvadorenha, Consuelo de Suncín, artista, pintora, escultora e de saúde frágil. Dizem que há várias referências a esse amor pela artista salvadorenha na obra O Pequeno Príncipe. Por isso, há uma bela praça dedicada a adultos e crianças em San Salvador, com personagens e passagens dessa obra tão conhecida no mundo todo.

El Salvador, o Pequeno Polegar das Américas

Acabo de chegar de El Salvador, o menor país das Américas, com seus 21 mil quilômetros quadrados e população de mais de sete milhões de pessoas, a maioria mestiços de índios e de europeus. Era o último país que me faltava visitar dentre todos os que constituem as Américas e Caribe, 35 ao todo. É um país que passou por uma guerra civil terrível, de 1980 a 1992, em que morreram milhares de pessoas. Hoje, o país está calmo, e sua maior fonte de sobrevivência é o envio de divisas dos milhares de salvadorenhos que saíram do país e hoje vivem nos EUA, Canadá ou em navios pelo mundo.

San Salvador, a Capital, é uma cidade que se moderniza, rapidamente, com seus centros comerciais e cadeias americanas de lojas e de comidas. Não é uma cidade violenta, perigosa para turistas, pois existem muitos guardas armados à frente de restaurantes, lojas e por todas as partes. Assustei-me, no primeiro dia, pois saí à tardinha para jantar e me deparei com muitos guardas armados à porta dos restaurantes. Depois, vi que isso era normal lá, para garantir a segurança dos cidadãos. Em Salvador, andei de ônibus populares, que são muitos e levam a toda parte, por um preço irrisório, 25 centavos, sem ar condicionado e 35, com ar. O país é, se comparado a outros, barato, e se pode comer e ficar em hotéis por preços razoáveis. Por oito dólares se faz uma boa refeição e por trinta se hospeda em hotel regular, com café da manhã incluído. O povo é bom, simpático, humilde e cordial. Anos e anos de guerra transformaram as pessoas em sobreviventes ansiosos pela paz e pela justiça social, pois ainda há muitas diferenças sociais e econômicas e a maior parte da população luta pela sobrevivência. Todavia, não vi mendigos em excesso e nem muita gente morando nas ruas, como aqui. Só dei esmola uma vez para um idoso, incapacitado de trabalhar, que entrou no ônibus a que me dirigia ao centro, pedindo ajuda. Mesmo assim, trabalhava, vendendo pequenos objetos, o que constitui a maior parte da renda de grande parte da população. É um país que vive da economia informal, pois não tem fábricas e empregos suficientes para todos. A jovens, explorando filhos para conseguir a caridade alheia, ou aos pedintes de porta de igreja, não dou esmolas. No centro, também é comum a presença de jovens que tentam extorquir motoristas, jogando água nos para-brisas dos carros numa velocidade tal, que não se lhes consegue dizer não. Ao contrário dos realmente necessitados, não se conformam com os centavos e reagem agressivamente.

Em El Salvador, se pode fazer turismo de praias, ecológicos ou culturais. O país é pequeno e tem uma diversidade de opções de passeio, menor que a Costa Rica, mas, também, interessante. Na capital, deve ser visitada a Catedral, onde se encontra a cripta do Monsenhor Romero, santificado em 2018 e assassinado em 1980, quando celebrava missa. O bispo Óscar Romero foi um dos maiores nomes da Teologia da Libertação, área da igreja católica socialista, tendo pagado com a vida sua opção pelos pobres. Junto com o futebolista Mágico González, constitui a dupla mais famosa do país no mundo. Outra igreja que deve ser visitada é a do Rosário, cuja obra modernista da década de 1960, é uma joia de arquitetura. Por fora, é feia e não se dá nada por ela. Por dentro, é uma maravilha saída da mente luminosa do arquiteto local Rubén Martínez. Também no centro, deve-se visitar o Palácio do Governo, em restauração e o Teatro Nacional, dentre outros sítios históricos. Perto de Salvador, é imprescindível subir ao El Boquerón, o maior vulcão da cidade, passear pelo parque bem preservado com seus pássaros nativos, dentre os quais o belo Torogoz, a ave nacional. Fora da cidade, fui ao Cerro Verde, outro parque nacional, onde se situam os maiores vulcões do país, já perto de Santa Ana, a segunda maior cidade, e o belo lago de Coatepeque, a oitava maravilha natural do mundo.

El Salvador também possui ruínas maias, embora as maiores estejam no México, na Guatemala e em Honduras. Fui visitar as de San Andrés, em La Libertad, e Joya de Cerén, o único Patrimônio da Humanidade do país, decretado em 1993 pela Unesco, antigo povoado maia, sepultado pelas cinzas do vulcão Ilamatepec, há centenas de anos, só recentemente descoberto. Enfim, El Salvador é uma boa surpresa para os que já viram muito, mas ainda acham que sempre há algo mais para descobrir no mundo. Aos guias Eduardo e Irving, meus agradecimentos pelas lições que me deram sobre seu país.

Ilhas do Caribe

Há mais de trinta anos visito as ilhas do Caribe, desde que estive em Cuba, pela primeira vez, em janeiro de 1987, passeio inesquecível feito com os colegas da Ufes, para um congresso de professores. O mundo era diferente, Cuba ainda estava ligada à URSS, era socialista e nos mostrava avanços na saúde e na educação que não víamos em outros países, incluindo o nosso. Para chegarmos a Cuba, passamos pelo Panamá, na época totalmente dominado pelos EUA, e podíamos compará-los. Nesses trinta e dois anos, tanto Cuba quanto as demais ilhas do Caribe mudaram muito. Algumas, evidentemente, para melhor e, certamente, as maiores mudanças ocorreram devido ao turismo, uma indústria que trouxe desenvolvimento e progresso àquelas ilhas.

O que se pode observar, também, é que as ilhas que ainda estão subordinadas às potências europeias, França, Inglaterra e Holanda, estão em situação melhor do que as que se tornaram independentes. Veja o caso do Haiti, o primeiro país a se tornar independente da França, desde o longínquo 1804, após sangrenta guerra pela libertação. Até hoje, é o país mais pobre das Américas e, agora, até o Brasil recebe milhares de refugiados daquela ilha. Por outro lado, Martinica, Guadalupe e São Bartolomeu, ainda possessões francesas, estão em franco desenvolvimento. Não quero com isso dizer que ser uma nação independente é ruim, mas que, países tão pequenos, subordinados a uma monocultura, naquela região, a cana de açúcar, têm mais dificuldade de sobreviver do que os que estão ainda ligados às nações que os colonizaram.  Pequenos países da região como Dominica, São Cristóvão, São Vicente, Antigua, Santa Lúcia, Barbados e Grenada, antes subordinados à Inglaterra, hoje sobrevivem do turismo, mas, se comparamos Bermuda e as Ilhas Virgens, ainda pertencentes à Inglaterra, vimos o quanto estão em estágios diferentes de desenvolvimento.

Mas, fazer cruzeiro no Caribe, ou ficar alguns dias em seus paradisíacos resorts, é tudo de bom. Com exceções, a maioria tem praia bonita, com areia branca e mar azul, coqueiros e palmeiras, que fazem o cenário idílico das fotos que rodam as redes sociais. Acabamos de fazer novo cruzeiro no Caribe, o primeiro já lá se vão 25 anos, e é legal ver como algumas dessas ilhas melhoraram como Granada, Trinidad, Barbados, Santa Lúcia e Martinica. A exceção é São Vicente, que passou a ser destino de cruzeiros após as filmagens do “Piratas do Caribe” ali, e ainda nem tem um porto de cruzeiro adequado. Vimos isso em Granada, pois estivemos lá, quando ainda engatinhava como nação independente após a intervenção militar dos EUA, em 1983. Hoje, a pequena Granada, a ilha das especiarias, recebe milhares de turistas em seu belo terminal de cruzeiros, para conhecer suas belezas naturais, dentre as quais a bela Grande Anse Beach, uma das mais fotografadas do Caribe. Em 2017, o Caribe recebeu mais de trinta milhões de turistas, número que deve ter sido ultrapassado em 2018, enquanto o Brasil, com toda sua potencialidade de belezas naturais, patina na faixa dos cinco milhões de visitantes.

 

Canadá, se não fosse o frio…

Desde 1995, tenho visitado o Canadá, um dos países mais desenvolvidos do mundo. Na primeira vez, fiquei em Toronto, fazendo um estágio na universidade de York, e após isso, percorri o país de costa a costa, indo a Montreal, Quebec e Vancouver. O Canadá tem tudo o que esperamos de um país de primeiro mundo: desenvolvimento tecnológico e humano. Lá não existem grandes diferenças sociais, o país é bastante miscigenado, pois recebe imigrantes de toda parte, e é repleto de belezas naturais. Quando era jovem, até recebi convite pra trabalhar lá, como professor na universidade, visto que minha formação é em literatura latino-americana, mas o frio me assustou. Acostumado com os trópicos, adoro o calor e a luz dos nossos trópicos, e teria dificuldade em viver num país tão frio, com um inverno tão rigoroso e tão prolongado. Só visitei o Canadá no outono, a primeira vez, e na primavera, quando fui a Victoria, no ano passado, e já senti muito frio. Agora, voltei no outono e passamos por lugares lindos.

Saímos de Nova Jersey, num cruzeiro de dez noites, na primeira semana do outono, para visitar algumas partes da Nova Inglaterra norte-americana e do Canadá. Paramos em Bar Harbor e Portland, no Maine, lugares maravilhosos, onde se aproveitar tanto as belezas urbanas quanto os parques naturais. Claro que uma parada de um dia não dá pra ver muita coisa, mas sempre fica o gostinho de querer voltar àqueles lugares de onde se gostou mais. No Canadá, paramos em Saint John, na Nova Escócia, Sydney e Hallifax, no Cabo Breton e Charlottetown, na ilha de São Jorge. Em cada um desses lugares, andamos a pé, pois são cidades pequenas, percorrendo seu centro histórico e conhecendo suas igrejas, museus, praças e jardins. O Canadá é muito cuidadoso com seus jardins, em toda parte se observa o capricho herdado de ingleses no cultivo das plantas ornamentais e na harmonia de suas construções. Em momento algum, vimos pessoas sem teto e pedintes, como é comum em outros lugares, até nos Estados Unidos.

O final da viagem foi em Quebec, essa que é, pra mim, uma das mais belas cidades das Américas ou, quiçá, do mundo. Quebec foi fundada por franceses e, durante muitos anos, disputada pelos ingleses. Seu formato é de uma cidadela, visto que é toda cercada de muralhas, às margens do rio São Lourenço. A civilização francesa acrescida à tradição inglesa deu a Quebec uma cara especial, uma mistura de civilização europeia à modernidade americana. Cidade híbrida, encantadora, com uma população amável e acolhedora a receber turistas do mundo inteiro para conhecer suas belezas e apreciar suas delícias gastronômicas. Mas, como nem tudo é perfeito, tem o frio que, mesmo no outono, entra pelos ossos e castiga a pele, impedindo que se fique muito tempo pelas ruas, sem procurar um lugar aquecido para se abrigar.

Nova York, capital do mundo

   Já rodei bastante pelo mundo e já tinha visitado as principais metrópoles do planeta, Tókio, Londres, Cairo, Mumbai, Los Angeles, São Paulo, Cidade do México, Paris, Xangai, antes de ir a Nova York, onde se localiza a sede das Nações Unidas. Não sei bem o motivo, mas temia me decepcionar ou sei lá porque outro motivo. Agora, fui, pois resolvi fazer um cruzeiro que saía de Cape Liberty, em New Jersey, e ia até Quebec, no Canadá, passando pelo Maine, o belo estado americano, terra das lagostas e da natureza. Decidimos ficar em Newark, New Jersey, pois tanto o aeroporto de chegada quanto o porto de saída se localizavam lá, o que barateavam os custos de locomoção. E não nos arrependemos, pois Newark está a apenas quinze minutos de Manhattan, de trem, desde a Penn Station. Além do mais, é mais fácil encontrar bons hotéis lá, com melhores preços do que em Nova York. Newark é quase uma cidade dormitório de Nova York, pois a maioria das pessoas vive lá e trabalha em Nova York, mais ou menos como Vitória e Vila Velha, onde moro, ou Rio e Niterói, no Brasil.

   Não tivemos muito tempo em Nova York, mas o dia estava quente e ensolarado, o que permitiu ver bastantes coisas. Era a primeira semana de outono e o tempo muda rapidamente. Tanto que, no dia seguinte, amanheceu frio e chuvoso. Chegamos ao hotel, deixamos a mala, tomamos um banho e seguimos de trem, saindo da Penn Station de Newark para a Penn Station de Nova York, o que dá uma confusão danada em turistas distraídos. Saímos da estação e subimos para a rua 34, onde pegamos o ônibus turístico, que faz o percurso do centro da cidade em cerca de duas horas. Interessante que, se tivesse comprado os bilhetes pela internet, teria pagado o dobro, 50 dólares por pessoa. Ali, com o vendedor credenciado, pagamos a metade. O pior foi um guia que falava demais e gritando, o que nos impedia de ouvir as explicações em nossa língua natal, pelo fone de ouvido. Não há necessidade desse guia e, em todos os lugares em que fizemos a visita da cidade nesses ônibus duplos, não havia esse guia totalmente inoportuno e desagradável.

Nova York é, verdadeiramente, sensacional. Sua grandeza é inigualável. Cidade cosmopolita, o mundo todo a visita e se surpreende com sua grandiosidade, visita seus museus, percorre suas ruas, bares, lojas e restaurantes para todos os gostos e preços. Oque se sente, em Nova York, é que todos ali estão de passagem. Cidade de imigrantes, foi construída com a contribuição multifacetada de gente do mundo todo. Há muitos negros, chineses, hindus, latinos e parece que todos vivem em aparente harmonia, em busca de uma vida melhor para si e sua família. Nona York nos surpreendeu positivamente e esperamos voltar lá, na primavera, para visitar seus museus, seus parques e outros lugares turísticos, o que não foi possível fazer dessa vez.

Palmas, capital do Tocantins

A maioria das capitais de estados brasileiros nasceu sem planejamento, daí os grandes problemas de infraestrutura com sua urbanização desenfreada e incapacidade de prover a seus moradores uma qualidade de vida adequada. Mesmo as cidades planejadas como Belo Horizonte, Goiânia e Brasília, hoje são metrópoles com problemas de deslocamento ou de moradia tão comuns como os das outras capitais.  A mais recente cidade planejada para ser a capital de um estado é Palmas, no estado de Tocantins, nascido pela Constituição de 1988, desmembrado de Goiás. Palmas foi fundada em 1989 e seu projeto arquitetônico e urbanístico foi concebido pelos arquitetos Luís Fernando Cruvinel Teixeira e Walfredo Antunes de Oliveira Filho. Como aconteceu com Brasília, a construção da cidade atraiu trabalhadores do interior do estado e de diferentes partes do país, o que provocou o surgimento de bairros periféricos de moradia populares. A partir de janeiro de 1990, Palmas se tornou a capital definitiva do estado de Tocantins, antes ocupada por Miracema do Tocantins.

De 1990 aos dias atuais, Palmas passou de vinte mil a quase trezentos mil habitantes, crescimento surpreendente, maior do que o índice nacional e estadual. Apesar disso, Palmas ainda mantém o título de ser a cidade com o maior índice de qualidade de vida entre os municípios e capitais do norte brasileiro. O nome escolhido para batizar a cidade se deve à grande quantidade de palmeiras na região, dentre as quais se destaca o buriti, e à Comarca de São João da Palma, hoje Paranã, sede do primeiro movimento separatista da região, ainda no início do século XIX. Palmas se localiza bem no centro do estado de Tocantins e é banhada pelo grande rio que dá nome ao estado e que também constitui o principal ponto de lazer, com suas praias, ilhas e passeios em barcos flutuantes. O melhor programa turístico em Palmas, antes ou depois de visitar o Parque Estadual do Jalapão, é ficar às margens do rio Tocantins, contemplando seu majestoso pôr do sol, onde uma imensa bola de fogo se esconde para surgir no outro dia, apreciando os petiscos locais, curtindo a paisagem e uma boa música e se refrescando após um dia calorento. É esse seu principal ponto negativo; o calor infernal! Palmas é, hoje, uma das cidades mais quentes do país, disputando com Cuiabá e Teresina esse título. Por isso, é inimaginável carro ou hotel sem ar condicionado.

A primeira impressão ao se chegar a Palmas é de estranheza, pois ela nada se parece com nossas cidades congestionadas, entupidas de carro e de gente. Com suas ruas largas e inúmeras rotatórias, o trânsito flui com facilidade e nada se vê de aglomeração de pessoas. Palmas não foi pensada para o pedestre. Como as cidades americanas, foi planejada para deslocamento de carro. Até a rodoviária é longe do centro, pois os bairros periféricos é que abrigam as pessoas trabalhadoras. Na Praça dos Girassóis, onde se encontra o Palácio sede do governo estadual, localiza-se o centro geodésico do país. Ali também se ergue um monumento à coluna de Prestes, que por ali passou nos idos de 1930. O primeiro grande shopping da cidade, o Capim Dourado, está próximo à Praia da Graciosa, onde também fica a zona hoteleira e maior quantidade de bares e restaurantes. O povo é simpático e hospitaleiro, essa mistura de branco, preto e índio, que fez o que o Brasil tem de melhor, sobretudo no interior, sua gente.