Viagem ao Ártico

                                 Viagem ao Ártico

   Nunca havíamos planejado ir ao Ártico. Estivemos próximo, quando fomos à Islândia, em Akureyri, há alguns anos. Sempre quisemos ir à Antártida, mais próxima de nós, já que vivemos no hemisfério sul. No entanto, escolhemos para nosso passeio anual, neste ano, um cruzeiro à Noruega, que incluía uma travessia do Círculo Ártico, Lat, 66°C 33.7”N, Long. 010° 42.6’ E, e chegamos até o Cabo Norte, Latitude 71°N, Longitude 025° 49.0’E, o ponto mais extremo ao norte da Europa. Felizmente, a temperatura estava extremamente agradável e, em Honingsvag, onde aportamos, fazia 8°C, pela manhã e 12°C, à tarde. Era final de verão, a melhor época para se ir de navio a essas paragens.

   Saímos de Southtampton, na Inglaterra, no dia 19 de agosto e, dois dias depois, chegávamos a Bergen, a segunda maior cidade da Noruega. Bergen situa-se na costa sudoeste da Noruega e possui cerca de 250 mil habitantes. Fundada em 1070, foi a capital do país na Idade Média. Era uma importante fortificação viking  e o cais do porto antigo, o Bryggen, ainda preserva o antigo centro comercial repleto de casinhas de madeira coloridas, hoje tombadas como Patrimônio Mundial pela Unesco. Nos armazéns e estalagens de outrora, atualmente funcionam museus, restaurantes e lojinhas, numa atmosfera acolhedora, com turistas circulando a um cenário quase cenográfico. Há muito o que se fazer em Bergen. Há muito o que se admirar na cidade. Para os que curtem, vale subir até o Monte Floyen, de teleférico, para admirar a paisagem, ou então, sentar-se no mercado de peixes e apreciar os saborosos pratos à base de peixes frescos de vários tipos. Também vendem petiscos de alce, rena e baleia, já que a Noruega é, infelizmente, um dos poucos países que ainda caçam baleias, junto da Islândia e do Japão. Bergen é a porta de entrada para visitar os famosos fiordes, uma das paisagens mais lindas do mundo.

  Após uma visita à bucólica Flam, povoação de 450 habitantes, onde passei meu aniversário, chegamos a Trondheim, a terceira maior cidade do país, com pouco mais de duzentos mil habitantes. Fundada em 997, foi a capital da Noruega durante a era Viking, até 1217. Era um entreposto comercial, que ligava o norte e o sul do país e de 1152 a 1537 foi sede da Arquidiocese de Nidaros, o antigo nome da cidade, onde se situa a Catedral de Nidaros, a maior do país e centro de peregrinação durante a Idade Média. Segundo a tradição, ali foi sepultado Santo Olavo, que converteu o país ao cristianismo e, durante muitos anos, era o local de coroação dos reis da Noruega. Atualmente, consagração e casamentos reais ocorrem nessa imponente catedral gótica, uma das mais bonitas do norte da Europa. Ao lado da catedral, pode-se visitar o antigo Palácio do Arcebispo, hoje um museu, onde, dentre muitas relíquias, encontram-se objetos valiosos dos antigos reis da Noruega. Trondheim é uma cidade universitária e importante centro comercial. Fácil de caminhar, repleta de museus e de construções modernas ao lado de antigas, é uma das mais belas cidades da Noruega.

   Mais alguns dias de navegação e atravessamos o Círculo Polar Ártico, dobramos o Cabo Norte e chegamos a Honningsvag, a pequena e simpática cidade de 3.500 habitantes, uma das mais ao norte da Europa. Localizada à latitude 70° 58’N, no município de Nordkapp, na costa sul da ilha de Mageroya, Honningsvag disputa com Hammerfest e Longyearbyen, também na Noruega, e Barrow, no Alasca, o título de cidade mais setentrional do mundo. O seu porto abriga navios de cruzeiro por passageiros ávidos por irem até o Cabo Norte, uma viagem de três horas de ônibus para ir e mais três para voltar. Também há passeios de helicóptero para os mais abonados financeiramente. Não há muitas atrações na cidade, mas se pode visitar um pequeno museu e a pequena igreja luterana, no alto da colina, a única construção que restou, após a II Guerra Mundial. Os nazistas ocuparam a localidade para alcançar a Rússia e grandes batalhas foram travadas ali. Nada restou da antiga povoação, a não ser a pequena igreja, testemunha solitária da ambição e da violência humanas.

   Na volta, visitamos Tromso, intitulada a capital do Ártico. A cidade possui cerca de 40 mil habitantes e é o melhor lugar para se ver as “luzes do Norte”, ou “aurora boreal”, mais comuns durante o inverno. É a maior cidade do norte da Noruega e se localiza a 300 km ao norte do círculo polar ártico. De novembro a janeiro, a cidade está imersa numa noite ártica. O sol volta a aparecer em 21 de janeiro, quando a cidade celebra o “Dia do Sol”. No verão, é época de ver o sol da meia-noite. Era domingo, quando chegamos a Tromso, por isso a cidade estava bem deserta, com poucas lojas abertas na praça da antiga catedral. A moderna catedral situa-se do outro lado da ponte, que não atravessamos. Caminhamos pela beira-mar e visitamos o Museu do Troll, muito apreciado pelas crianças e o Museu Polar, onde se pode ver uma pequena história da conquista do Polo Norte. Amundsen, o célebre conquistador, é natural de Tromso e sua estátua está na entrada do Museu. Tivemos bom tempo, embora a cidade seja famosa pela chuva e pelo frio congelante. Muita gente se aventura a ir lá, no inverno, na tentativa de ver a aurora boreal. Já a vimos, na Finlândia, há alguns anos, e não voltaria a Tromso, no inverno, nem que a vaca tussa rs.

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